quarta-feira, setembro 01, 2010

Distância

Dandara
Na linguagem corrente, distância é a medida da separação de dois pontos.
Vim falar-lhes dela.

Eu sou a Dandara Globeleza...Danda, Dandinha.
Naquela manhã acordei assustada...mais uma vez, aqueles mesmos meninos me arrastavam para o mar, era sempre a mesma coisa, anoitecia, eu cavava meu buraquinho na areia da praia deitava e ficava esperando o dia nascer, junto com o dia, vinham os que por qualquer motivo tolo insistiam em me atirar na água e ficar me observando quase afogar, estava sendo cada vez mais difícil escapar...a barriga pesava, havia algo dentro de mim que eu não entendi bem o que era, mas eu amava aquele "peso".

Aí começavam as distâncias:
eu gostava tanto do que estava dentro de mim, meus filhos...e olhava aqueles meninos nos olhos e via que neles ainda havia algo de bom, uma parte do coração deles ainda era limpa, eram praticamente crianças, não poderiam tentar me matar assim, sem um bom motivo...poderiam estar cumprindo uma importante missão, mas havia uma enorme distância entre eles e o mundo com o qual eu sonhava.

Então eu nadava, corria até a rua, me escondia debaixo dos carros...e dessa forma os dias eram sempre iguais, uma ou outra pessoa me oferecia uma migalha, eu chorava sozinha. A distância permanecia me separando das pessoas, os fatos (cruéis) iriam certamente se repetir, além do mar gelado, haviam também os chutes, os palavrões, os cuspes em meu focinho.

Mais uma vez chegou o sol, um carro parou...eu escondidinha fiquei a observar.
Elas se aproximaram, cochicharam algo...nas mãos uma coleira vermelha, vermelho; a cor do amor!
Por de trás da roda eu pude vê-las se aproximando, a coleira vinha em minha direção, mas eu não iria sair dali de maneira nenhuma, a não ser que as moças me dessem os melhores motivos.
Elas eram humanas, eu nunca confiaria em humanos...se abaixaram me olharam nos olhos, falaram comigo, fiquei confusa. Me assustei e perguntei a mim mesma: cadê a distância? Onde ela foi parar?
Quando percebi, estava no colo da dinda, dentro do carro...a caminho de casa, o vento batia no meu focinho, eu olhava o mar e a distância entre nós só aumentava e dentro de mim formigava uma deliciosa sensação de confiança.

Dois dias depois me separei dos meus filhotes...não resistiram às pancadas que levei durante tanto tempo na barriga, a distância voltava a me preocupar. Mas ali havia conforto e amor.
Surgiram mais sorrisos, abraços, brinquedinhos, comida gostosa...uma mãe, uma família inteira, com irmãos.
Hoje, sei que a distância pode ser mais do que tristeza e abandono.
Pode ser algo que te separa da felicidade absoluta, aquela que chega no momento certo e invade seu mundo deixando em você a certeza de estar sendo intensamente amado(a).


Danda foi resgatada na praia Barra do Jucu, prenhe, sarnenta, assustada, cheia de carrapatos, machucada, desconfiada...nos seus olhos havia uma tristeza que insistia em tentar nos manter distantes.

Mas o amor está sempre a postos para transformar vidas, construir pontes e derrubar distâncias.

E Danda hoje vive rodeada de carinho, um carinho do tamanho que ela merece.

Dindas

7 comentários:

Unknown disse...

Pois é...E eu queria amanhecer na praia junto com Dandara, só para ter o prazer de dar um socão bem dados no meio do olho desses filhos de uma quenga, covardes...aff, ninguém merece!

Anônimo disse...

Linda demais! Sorte dela e de quem adotou. Parabéns!!

ANIME FEST disse...

Nossa, lindo o trabalho de vcs. Não consigo entender como alguém pode judiar de criaturas tão dóceis, que Deus fez para ser nossos amigos.
É a primeira vez que vejo o blog, não conhecia o auaufanato.
Toda criança deveria ter um cãozinho para aprender o que faz um amigo de verdade.

Anônimo disse...

linda narativa mari
a danda teve mesmo que o merece
uma casa e irmaos.
ela é uma delica de peludinha.
sabias palavras amigo humberto

Anônimo disse...

A Danda é a coisa mais linda!!! Está muito feliz na sua nova casa! Sorte da mãe dela né!!!

Unknown disse...

Ela chegou só Danda e logo virou "Danda Globeleza". Ela é a alegria da Laila, do Alemão e de uma mãe muito coruja. Obrigada a voces que lapidaram essa jóia tão rara e a deram pra mim.
Somos muito felizes!!!
Mamãe da Danda Globeleza.

Ariana Zatta disse...

Que familia linda que se formou...